Ave Caesar! Morituri te sa
lutant! (Ave Cesar! Os que vão morrer te saúdam!)
Era assim que os gladiadores saudavam o imperador na arena. Tinham consciência de que iam morrer naquela tarde. De alguma forma essa serenidade me fascina.
Todo dia tenho passado muitas horas ao lado de gente que estão encenando verdadeiros dramas. Estamos na arena da vida. E nossa luta é contra o câncer. Assim como os gladiadores, alguns de nós venceremos... Outros não.
Curiosamente esse é o grupo mais ordeiro que já vi. Esperam pacientemente serem chamados para sua dose diária de radiação. Ninguém reclama da espera, ninguém se impacienta.
No olhar, aquele brilho enigmático... Esperança? Resignação? Serenidade? Tudo isso. Encontraram outro modo de encarar a vida. Um modo onde a pressa e a impaciência perderam o poder sobre eles.
Nessa sala, parece que todas as ansiedades perdem o sentido.
Bem diferente de fila de banco onde a impaciência é contagiante. Fila de aposentados é a mesma coisa! E qualquer outra sala de espera. Menos essa.
A espera não nos incomoda. Até parece que temos todo o tempo do mundo! E não temos. Uma confirmação disso é o plano de saúde não liberar a autorização do tratamento inteiro. Libera por partes. A razão é o número de pacientes que interrompem o tratamento por terem sua viagem antecipada para os “Verdes campos de caça”. Perderam a batalha.
Para mim, aquilo que começou como mais uma aventura da vida, transformou-se em coisa séria. Nova intervenção cirúrgica, extração da próstata, sessões de radiação para garantir risco de metástase. A vida como eu conhecia ficou de cabeça pra baixo. Mas ainda é vida. E vale ser vivida. E como meus companheiros de sala de espera, estou lutando por ela.
Volto outra hora com novidades da arena.
Ave Cesar!